Espero que seja, de alguma maneira, construtivo!

sábado, 5 de março de 2011

O Homem cuja Orelha Cresceu - Ignácio de Loyola Brandão

O homem cuja orelha cresceu
Ignácio de Loyola Brandão

Estava escrevendo, sentiu a orelha pesada. Pensou que fosse cansaço, eram 11 da noite, estava fazendo hora-extra. Escriturário de uma firma de tecidos, solteiro, 35 anos, ganhava pouco, reforçava com extras. Mas o peso foi aumentando e ele percebeu que as orelhas cresciam. Apavorado, passou a mão. Deviam ter uns dez centímetros. Eram moles, como de cachorro. Correu ao banheiro. As orelhas estavam na altura do ombro e continuavam crescendo. Ficou só olhando. Elas cresciam, chegavam a cintura. Finas, compridas, como fitas de carne, enrugadas. Procurou uma tesoura, ia cortar a orelha, não importava que doesse. Mas não encontrou, as gavetas das moças estavam fechadas. O armário de material também. O melhor era correr para a pensão, se fechar, antes que não pudesse mais andar na rua. Se tivesse um amigo, ou namorada, iria mostrar o que estava acontecendo. Mas o escriturário não conhecia ninguém a não ser os colegas de escritório. Colegas, não amigos. Ele abriu a camisa, enfiou as orelhas para dentro. Enrolou uma toalha na cabeça, como se estivesse machucado.

Quando chegou na pensão, a orelha saia pela perna da calça. O escriturário tirou a roupa. Deitou-se, louco para dormir e esquecer. E se fosse ao médico? Um otorrinolaringologista. A esta hora da noite? Olhava o forro branco. Incapaz de pensar, dormiu de desespero.

Ao acordar, viu aos pés da cama o monte de uns trinta centímetros de altura. A orelha crescera e se enrolara como cobra. Tentou se levantar. Difícil. Precisava segurar as orelhas enroladas. Pesavam. Ficou na cama. E sentia a orelha crescendo, com uma cosquinha. O sangue correndo para lá, os nervos, músculos, a pele se formando, rápido. Às quatro da tarde, toda a cama tinha sido tomada pela orelha. O escriturário sentia fome, sede. Às dez da noite, sua barriga roncava. A orelha tinha caído para fora da cama. Dormiu.

Acordou no meio da noite com o barulhinho da orelha crescendo. Dormiu de novo e quando acordou na manhã seguinte, o quarto se enchera com a orelha. Ela estava em cima do guarda-roupa, embaixo da cama, na pia. E forçava a porta. Ao meio-dia, a orelha derrubou a porta, saiu pelo corredor. Duas horas mais tarde, encheu o corredor. Inundou a casa. Os hospedes fugiram para a rua. Chamaram a polícia, o corpo de bombeiros. A orelha saiu para o quintal. Para a rua.

Vieram os açougueiros com facas, machados, serrotes. Os açougueiros trabalharam o dia inteiro cortando e amontoando. O prefeito mandou dar a carne aos pobres. Vieram os favelados, as organizações de assistência social, irmandades religiosas, donos de restaurantes, vendedores de churrasquinho na porta do estádio, donas-de-casa. Vinham com cestas, carrinhos, carroças, camionetas. Toda a população apanhou carne de orelha. Apareceu um administrador, trouxe sacos de plástico, higiênicos, organizou filas, fez uma distribuição racional.

E quando todos tinham levado carne para aquele dia e para os outros, começaram a estocar. Encheram silos, frigoríficos, geladeiras. Quando não havia mais onde estocar a carne de orelha, chamaram outras cidades. Vieram novos açougueiros. E a orelha crescia, era cortada e crescia, e os açougueiros trabalhavam. E vinham outros açougueiros. E os outros se cansavam. E a cidade não suportava mais carne de orelha. O povo pediu uma providência ao prefeito. E o prefeito ao governador. E o governador ao presidente.

E quando não havia solução, um menino, diante da rua cheia de carne de orelha, disse a um policial: "Por que o senhor não mata o dono da orelha?"

O texto acima foi extraído do livro "Os melhores contos de Ignácio de Loyola Brandão", seleção de Deonísio da Silva, Global Editora — São Paulo, 1993, pág. 135.

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Caros leitores!

Como sempre venho primeiramente justificar-me pela demora na postagem: começaram as aulas na faculdade, e andei sem tempo para postar. Grata pela compreensão!

     Quanto ao texto "O Homem cuja Orelha Cresceu" farei um breve comentário, deixando para suas mentes interagirem com ele.
     Inicialmente pode ser um texto sem sentido, sem nexo algum, mas  fazendo uma análise mais aprofundada pode-se perceber que a intenção do autor é realmente fazer com que o leitor crie situações reais que possam ser comparadas às orelhas do pobre personagem. 
     A primeira situação que surgiu em minha mente foi uma comparação às mazelas sociais. Até um certo ponto elas podem permanecer escondidas, camufladas com outras situações, mas chegam a um ponto extremo de crescimento, que não podem mais se esconder, e os órgãos competentes dessa área vão ter que mostrar serviço. Inicialmente as soluções encontradas parecem diminuir os problemas, mas eles continuam crescendo, e tenta-se junto a isso arranjar alguma outra maneira de camuflar o crescimento, podendo-se aludir assim ao fim do texto:
E quando não havia solução, um menino, diante da rua cheia de carne de orelha, disse a um policial: "Por que o senhor não mata o dono da orelha?"
    Essa foi uma visão negativa das coisas, mas foi a primeira situação que surgiu em minha mente.






quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

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quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Quando parece utopia

Incrível que as opções para divagar são muitas, porém tenho a impressão de que quanto mais se procura inspiração, mais ela foge de nossas cabeças. Enfim, isto é apenas uma justificativa sincera e atual para os possíveis longos intervalos entre uma postagem e outra. Prometo procurar fazer com que isso não aconteça. O tema dessa postagem, é claro, já está escolhido, ou nem teria motivo para eu estar aqui.


Diante de todos os acontecimentos, parece até utopia imaginar uma sociedade que não precise mais discutir com tanta preocupação temas como pena de morte, violência, prisões lotadas, diminuição da maioridade penal, injustiças cometidas, dentre outras tantas mazelas que nos atingem, que não cabe aqui citar pois alongaria demais meu texto. É perceptível que o bem e o mal se entralaçam em tudo que  o homem faz, isso esteve presente em toda a história. Perante atitudes humanas que nos parecem más demais para cotinuarem desfrutando da vida, podemos nos indignar e dizer que somos a favor da pena de morte, que ela deveria existir sim, e tantas outras coisas que expelimos em momentos de revolta contra nossa própria raça. Analisando mais a fundo conseguimos enxergar que bastam maiores investimentos, preocupação de verdade, escolhas plausíveis na hora de votar, educação de qualidade e todos esses elementos repetitivos. Digo repetitivos pois podemos citar várias e várias vezes em nossos textos, mas ver acontecer, é algo totalmente distinto. Que pena! O que nos falta para esses temas serem realmente resolvidos é primeiramente uma aproximação entre a intenção da lei e sua aplicação, ou seja, precisamos de leis mais rígidas, que realmente façam valer nossos direitos na prática, e não apenas no papel. Isso já seria um bom pontapé de entrada para amenizar os problemas. E que pontapé, pois nossas leis dão o direito à educação, mas o que não vejo é qualidade, oportunidade,  e com essa falta as pessoas buscam outras alternativas para sobreviverem, e é daí que vem muita parte da criminalidade. É, o assunto é deveres importante, e às vezes os 'nossos escolhidos' ainda o tratam com frivolidade. Por fim, concluirei meu texto com o trecho de um outro texto, da Lya Luft, pois diz em outras palavras tudo o que gostaria de dizer: "Se fosse possível - e com real determinação é possível - botar essa meninada em escolas em tempo integral; se fosse possível, e é, expulsar os traficantes das favelas de todas as grandes cidades; se fosse possível, e é, punir exemplarmente os corruptos públicos, dando esperança às pessoas [...]. [...] se cada pessoa que usa maconha ou outra droga fornecida por traficantes pensasse que a cada baforada, cheirada ou injeção está fortalecendo a criminalidade; se os corruptos dos altos e baixos escalões fossem punidos e não afagados" (Revista Veja, ed. 2062, 2008, p. 20), certamente não precisaríamos achar que é utopia a resolução dos temas citados no início do texto.





 Já que o tema foi discutido, sempre pensei em tentar fazer algum tipo de movimento contra aquilo que não achamos correto na política, na socidade... e esse movimento poderia ser na internet, onde está o maior número de jovens, acessando diariamente, porém não consigo imaginar como poderia começar, como poderia ser organizado. Deixo lançada a ideia, e se alguém gostar e tiver sugestões ou alguma ideia parecida postem nos comentários, vamos ver o que podemos fazer. Obrigada!

G.B.A




Link do texto da Lya Luft, o qual tirei o trecho final do meu texto: http://veja.abril.com.br/280508/ponto_de_vista.shtml

sábado, 15 de janeiro de 2011

Deu no New York Times - Larry Rother (Resenha)

Olá! Hoje irei resenhar o livro Deu no New York Times, de Larry Rohter!

O livro "Deu no New York Times" do jornalista Larry Rohter, que ficou mais conhecido aqui no Brasil quando citou que o ex presidente Luiz Inácio Lula da Silva possuía gosto pela bebida, reúne diversas matérias do jornalista quando foi representante aqui no Brasil, e mostra suas peculiares impressões e momentos vivenciados em nosso país. É uma leitura interessante e ao mesmo tempo cansativa, instigando a sabermos qual é a impressão dos estrangeiros quando vêm para o Brasil. O autor divide o livro por assuntos começando pela cultura, depois sociedade, política, amazônia e por fim ciência e economia. Cada seção traz as melhores reportagens do autor sobre o tema, e possuem uma mescla de críticas e elogios ao Brasil, apontando principalmente os problemas do governo e da forma de agir do povo, ambas muito singulares. Repetidas vezes parei a leitura e analisei as críticas com fatos concretos que realmente acontecem. O interessante é que Larry Rohter critica construtivamente, apresentando possíveis soluções, fazendo o leitor perceber que o seu interesse não era difamar, e sim apresentar aos estadunidenses o cotidiano brasileiro, de forma a fazer com que se interessassem. Faz questão de deixar claro também que é a sua PARTICULAR impressão sobre o Brasil que ele está apresentando. As soluções expelidas pelo autor, na maioria das vezes, são baseadas em comparações com situações semelhantes em outros países, e ainda, faz muitas comparações do Brasil com os EUA, a fim de familiarizar o seu povo com o nosso povo. Na seção que fala sobre política deixa transparecer o início amistoso de sua relação com o ex presidente e o fim inconstitucional, que o levou a quase ser expulso do país. Alguns comentários chamaram-me mais atenção, como quando fala da natureza flexível da política brasileira, do brasileiro na arte de duplipensar, da natureza flexível da política brasileiro, do hiato que existe com a inteção declarada da lei e sua aplicação, das soluções apresentadas para começar a dar um fim na corrupção, suas ideias para um governo de sucesso, etc. Muitos ao ler a resenha podem pensar: não estou interessado na visão que algum americano possui sobre o Brasil, porém ao ler as reportagens contidas no livro percebemos que são ditas muitas verdades que procuramos muitas vezes ignorar, com certeza tiveram opiniões com as quais não concordei, e podem ter sido muitas, mas o livro abre os olhos para uma visão mais crítica e construtiva. No início da resenha citei que era uma leitura interessante e cansativa, digo interessante pois nos instiga a saber mais e mais, e cansativa pois as reportagens às vezes são repetitivas sobre alguns aspectos que já conhecemos e muito bem, mas como elas foram feitas com o objetivo de familirizar os americanos, é compreensível. Enfim, a leitura serviu para relembrar muitos fatos que aconteceram no Brasil, e principalmente para perceber como somos vistos com nossas atitudes. 


Título: Deu no New York Times: o Brasil segundo a ótica de um repórter do jornal mais influente do mundo
Autor: Larry Rohter
Tradução: Otacílio Nunes
Editora: Objetiva
Ano: 2008
Número de páginas: 416

Abaixo deixarei alguns trechos grafados ao decorrer da minha leitura:

"A política brasileira é um processo de reinvenção refiliação e reacomodação". 
(Nesta parte ele está falando da natureza flexível de nossa política, de como são mutantes as lealdades e alianças entre os partidos, etc).

"A única maneira de o Brasil começar a extirpar a corrupção endêmica e institucionalizada e completar o processo que começa com a mudança do governo militar para o civil em 1985, é a aprovação de uma reforma política abrangente [...]". (p. 152-153)

"Um governo precisa sempre buscar o interesse nacional, e não seguir os caprichos ou projetos favoritos de um só partido ou facção"

Em uma de suas citações fala do conceito de duplipensar, que comentei acima, que foi criado por George Orwell, sendo o poder de manter duas crenças contraditórias na mente ao mesmo tempo. "Os brasileiros são craques nessa arte. Eles são ao mesmo tempo ufanistas sobre o Brasil, e os mais implacáveis críticos de sua sociedade", diz ele.

Peço desculpas por não estarem grafadas as páginas nas citações, é que no decorrer da leitura esquecia de tal detalhe. Obrigada, seria isso por hoje!

G.B.A

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Alguns itens que chamaram a atenção

Olá! Andei lendo alguns livros e alguns extratos chamaram-me a atenção, e resolvi compartilhar...

"A coloração ideológica é menos importante que o sofrimento humano que ela causa em nome de um culto à personalidade ou de metas e benefícios gerais que se revelam ilusórios". (Deu no New York Times - Larry Rohter)

 Neste mesmo livro encontrei o conceito de duplipensar, criado por George Orwell, que seria o poder de manter duas crenças contraditórias na mente ao mesmo tempo. O autor do livro cita que os brasileiros são craques nessa arte, dizendo que somos ao mesmo tempo ufanistas sobre o Brasil, e os mais implacáveis críticos do mesmo.


"Viver no mundo sem tomar consciência do significado do mundo é como vagar por uma imensa biblioteca sem tocar nos livros" Ensinamentos secretos de todos os tempos


Gostaria de citar ainda que estou lendo "O mundo de Sofia", e estou no início, e pelo início indico o livro, pois parece ser muito bom, além do autor criar um certo tipo de mistério, ele ensina filosofia, é claro!


É, seria isso por hoje..
Até mais e espero comentários e sugestões


sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Sem assunto..

É tão triste procurar um assunto para escrever, saber que existem tantos que você gostaria de falar, e não escrever sobre nenhum porque a tarde está vazia e parada, sem estimulo nenhum para inspiração. Li alguns textos a procura de uma luz para que a inspiração tão necessária surja, mas isso não me ajudou em absolutamente nada. Que fique claro que não estou desmerecendo os textos que li, pois esses eram interessantes. Se algum leitor tiver alguma sugestão de assunto a ser discutido, por favor, quem sabe este seja um caminho para inspiração!

Até a próxima postagem (isso pode ser considerado uma?)

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Dica de Leitura

Depois de mil anos sem postar, cá estou eu, para uma dica de leitura!

O Leitor - Bernhard Schilink
     É uma leitura envolvente, que se faz rapidamente, pela curiosidade que causa no leitor.
    A história se passa na Alemanha, e narra o relacionamento de Michael Berg, um menino de 15 anos, com Hanna Schimitz, uma mulher vinte anos mais velha que ele. Os encontros entre eles são marcados por um ritual: primeiro tomam banho juntos, ele lê livro para ela, e depois fazem amor. Mas Berg, nunca chega a saber muito sobre sua amante, e certo dia ela resolve sumir, e ele acha que nunca mais irá encontrá-la. Segue sua vida, e começa a estudar Direito. Encontra Hanna em um julgamento, onde ela é uma das acusadas, por diversas mortes em um campo de concentração nazista. Então Michael ligando alguns fatos percebe que Hanna guarda um segredo (lógico que não vou contar aqui qual é) que considera mais vergonhoso que um homícidio.
     Um dos trechos que mais me chamou atenção no livro: ''Por quê? Será porque aquilo que foi belo se torna frágil para nós em retrospectiva, por esconder verdades sombrias? Por que a lembrança de anos felizes de casamento se estraga quando se revela que o outro tinha um amante durante todos aqueles anos? Será porque não se pode ser feliz em tal situação? Mas a pessoa era feliz! Às vezes a lembrança não é fiel à felicidade quando o fim foi doloroso. Será porque a felicidade só vale quando permanece para sempre? Será porque só pode terminar dolorosamente o que foi doloroso de modo inconsciente e invisível? Mas o que é uma dor inconsciente e invisível?
  
Fica a dica!



OBS: Este romance deu origem ao filme estrelado por Kate Winslet e Ralph Fiennes!

G.B.A